segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

escre(ver) com coração





Eu sabia que ia acabar mais cedo ou mais tarde, cedo demais para o meu coração...  Mas muito tarde para a minha desilusão... É o preço do arrendamento lunático, um preço muito alto, mesmo a combinar com o tamanho do tombo que o nosso coração dá quando nos mandam a ordem de despejo. Digo "ordem de despejo" porque é mais fácil e dói menos dizer assim, do que ser frio e congelar os restos mortais que sobrevivem ao dizer DESAPEGO. Doeu, não foi? O desapego é a pior palavra que podemos pronunciar... Cheira a fim, cheira a dor, sei que é um cheiro que adoece. O desapego é mesmo assim, é largar, é deixar, deixar para ninguém, ou deixar para outro alguém qualquer cuidar, dar o que "era nosso" e que selávamos com tanto carinho e amor no nosso coração para outra pessoa qualquer tentar fazer o papel que, eu tinha a certeza que fazia direito... Mas agora já não vou cuidar mais, já não vou ter de me preocupar... Eu até não me importava, se conseguisse ignorar... Mas só souberam mandar saudade na minha mala.... Mandaram lugares, palavras, frases, olhares, sorrisos e gestos... Mandaram também as mãos dadas que eu tanto gosto... Mandaram as brincadeiras com o meu cabelo, mandaram o ombro onde eu encostava a cabeça para ver o filme... Mas ao mesmo tempo não mandaram nada, porque a mala vem vazia... Aí eu paro e repenso... Afinal, a mala traz alguma coisa... O vazio, o vazio que é tão pesado e nem me deixa voltar a voar... Agora já sei que tudo aquilo que eu trago comigo e que dá tanta saudade não vem em mala nenhuma... Tinha de vir fechado num sítio mais seguro... Tão seguro e tão frágil ao mesmo tempo... Um coração tão magoado, tão cansado, tão farto de sobreviver... Mas ele ainda guarda tudo aquilo que fez com que a minha mala pesasse. Agora, eu tenho de aprender a viver com duas pedras na bota... Porque não quero voltar a viver na lua tão cedo... É hora de alugar um quartinho bem acolhedor, pode ser pequenino, não me importo. Um quartinho acolhedor que ajude a acolher o que trago na minha mala... É uma bagagem provisória, quem sabe com o tempo fique mais leve... Quem sabe não ajude o meu coração a cicatrizar? É, quem sabe... 
Agora eu sei, o quanto custa largar aquilo que guardamos a sete chaves, o medo de perder ajuda a não achar! Sem medo... Já cheguei, vou-me instalar, abrir a mala e tentar acomodar-me no meu novo cantinho, e  colar, devagarinho, cada pedacinho do meu magoado coração. 



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